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VOZES DA AVÓ
Junho 3 , Sábado

Entrada: grátis
Horário: 10h00 às 23h00
Duração: até dia 31 de julho
Local: Espaço Cultural The Hood, na Praça Central do Centro Comercial UBBO

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“Hoje em dia ser rebelde também é ter tempo para ouvir quem nos embalou”
, defende Melanie
Alves, autora deste projeto e do movimento ‘o colo como ativismo’. The Hood acolhe Vozes da
avó — histórias pintadas com tecidos e linhas — até ao final de julho.

 

Algumas menções na mídia

Ambient Magazine

RR Sapo

Lider Magazine


Durante o mês em que se comemora o Dia dos Avós (26 de julho, quarta-feira), o espaço cultural The Hood presta homenagem às guardiãs das famílias portuguesas — enquanto símbolo de resiliência e de afetos — com uma instalação multissensorial e contracorrente da artista plástica luso-americana Melanie Alves.

Vozes da Avó assume-se simultaneamente como uma carta de amor e um manifesto de luta pela valorização da comunidade feminina sénior, pois resulta da necessidade de a autora fazer o luto da sua última matriarca — que contava entrevistar para a conhecer melhor — e de erguer a bandeira do ‘colo como ativismo’.

“Este trabalho é uma ode, um hino à terceira idade, pois pretende mostrar que ser idoso é cool e fresh e sinónimo de experiência e de sabedoria e não apenas de incapacidade. Hoje em dia, ser rebelde também é ter tempo para ouvir e cuidar de quem nos embalou, nos protegeu e nos deu carinho”, defende a autora.

E porque os avós são casa-abrigo, a instalação assume a forma de um lar. À janela entreaberta, oito matriarcas desconhecidas — são da Amadora, mas representam as avós de todo o país — surgem em retratos pintados com tecidos e linhas que as caracterizam, esperando que as suas memórias sejam (re)visitadas sem pressa.

Já no interior desta casa de oito metros de altura ecoam as histórias — desde a infância até ao presente — destas avós. As narrativas são contadas através dos objetos doados pelas mesmas e de sobras de tecidos oferecidos por fábricas nacionais, sendo tudo isto alinhavado com várias técnicas de costura (como quilting).

Segundo Melanie: “Esta obra é uma poética experiência visual e tátil que permite aos visitantes, através de fragmentos pessoais e do quotidiano dos outros — rendas, caixinhas de música, roupa interior, galochas de criança (...) — serem surpreendidos, reavivarem memórias e percorrerem caminhos alheios como se fossem os seus.”

“No fundo, no fundo, este local é uma espécie de gigantesco álbum de recordações particulares que todos podemos espreitar e ‘folhear’ e onde todos acabamos por nos (re)encontrar de alguma forma, dado que as nossas histórias, contrariamente aos corpos, movem-se sem restrições no tempo e no espaço”, sintetiza.

Além de ser um grito de revolta contra a sociedade que trata os idosos como se fossem Kodaks descartáveis, esta instalação também põe o dedo numa outra ferida que a artista não desiste de ajudar a estancar em todos os seus trabalhos: a do desperdício, nomeadamente do setor têxtil, que tanto prejudica o meio ambiente.

A mensagem da autora é inequívoca: “Nem os avós nem os produtos são para serem desperdiçados. Por isso, neste caso, 95% dos materiais são resultado do meu contínuo esforço de upcycling — reutilização criativa de peças —, sendo que, no final, os mesmos serão aproveitados para outras obras, como manda a economia circular.”

Vozes da Avó — cuja produção total demorou cerca de seis meses e engloba entrevistas, fotografias e vídeos — é um documentário sobre sete avós e ao qual Melanie Alves adicionou o que lhe restava da sua matriarca — as memórias —, costurando com todos estes materiais uma manta de retalhos de emoções coletivas.

Instalação

1. Mensagem-chave do espaço

A instalação assume a forma de uma casa, de uma casa-forte, de uma fortaleza, de uma Muralha da China. E a casa da avó não é isso mesmo? Um castelo de sonhos e uma casa-guarita que nos protege de tudo e de todos?

Este trabalho não representa a casa da avó no singular, mas no plural e no coletivo. Ela simboliza, a partir de oito casos reais — sete avós da Amadora mais a avó da artista que faleceu durante a pandemia — todas as avós de Portugal.

Tudo porque a casa da avó é aquele lugar mágico ao qual queremos sempre voltar, dado que, ao regressarmos a este espaço, no fundo, estamos a regressar, de certa forma, à nossa infância e à eterna felicidade dos momentos vividos.

2. Estrutura narrativa espacial

2.1. Pórtico: Porque numa casa-útero há vida, é no pórtico que bate o coração deste projeto. À janela, as oito avós — cujos rostos são feitos de tecidos que as caracterizam — dão-se a conhecer e recebem os visitantes. Nesta parte, o foco é o retrato, a base de trabalho da Melanie, pois é através das expressões das linhas do rosto que mais gosta de contar histórias. Já dentro desta casa-colo, a intimidade sente-se na presença de roupa interior que baloiça como se tivesse sido acabada de estender.

Janelas: como se abrem e fecham, são símbolo de chegada e de despedida, de começo e de fim, de felicidade e de tristeza, de conforto do previsível desorientado pela surpresa do espontâneo. Não será a vida toda ela uma janela?

2.2. Dois altares verticais: Este pórtico, por sua vez, está assente em duas estruturas laterais verticais, as quais funcionam como altares de memórias reais.

O altar do lado esquerdo — mais introspetivo e filosófico — é marcado por tons neutros e apaziguadores, os quais representam o conforto e o regresso às origens em duas situações distintas. No primeiro caso, é evocada a avó da artista, através de peças que deixou como herança. Suspenso do teto, surge um ‘candeeiro’ formado por quatro colchas brancas de renda, dentro do qual dois globos que outrora iluminavam a antiga sala de estar simbolizam agora a luz que a avó irradiava. No segundo momento, numa parede forrada a tecidos de tons crus, vê-se o contorno de uma figura feita de rendas e de crochets, que sugere o eterno retorno: do ciclo do útero reprodutor até ao colo cuidador.

No altar do lado direito — mais extrovertido e mundano — e também em dois momentos diferentes, vive-se o colorido da infância que os avós ajudam a pintar. No primeiro caso, do teto pende uma estrutura feita de tiras de lã multicores, muito semelhante a uma tenda de circo, dentro da qual surgem umas galochas de quando uma avó era pequenina. Será isto um convite a brincar à infância? Já na parede, tecidos de mil tons, desenhos e texturas sobrepõem-se em camadas, simbolizando roupas, toalhas, tapetes, colchas, sofás e tudo aquilo que envolve e forra os dias dos avós. E é por entre este quotidiano que o visitante pode dar corda a caixinhas de música e simultaneamente ler algumas sugestivas mensagens, bordadas em envelopes de tecido, como estas: ‘quer casa quer casa’’, “sonhei contigo, amor” e ‘pela boca morre o peixe’.

Os três pilares do processo artístico

1. Matriarca(s): quando Melanie regressou a Portugal, em 2019, um dos objetivos era passar mais tempo com a última avó viva, conhecê-la melhor, fazer-lhe uma entrevista e registar a conversa em vídeo para esta funcionar no futuro como uma espécie de “memória de família”. Todavia, Maria José acabou por falecer no início da pandemia, e a artista, como não teve oportunidade de lhe “dar voz”, para conseguir fazer o luto, sentiu necessidade de imortalizar a sua história através de um trabalho artístico. Tendo em conta que os seniores foram os que mais sofreram com a covid — quer pelas mortes quer pela solidão — e também os que mais são estigmatizados por estarem associados a incapacidade, Melanie resolveu incluir outras vozes na sua instalação. No início, a ideia era percorrer o país e recolher testemunhos das avós de Portugal. Mas, rapidamente cingiu o processo a sete avós da Amadora que, pela sua diversidade de idades, etnias, raças, origens e profissões, acabam por representar as avós de todo o país. Além disso, revelam ainda que a Amadora — uma cidade que, à semelhança da velhice, também ela é negligenciada — não tem só uma, mas muitas histórias para contar. Vozes da avó pretende mostrar que ser mais velho é cool e que os mais novos devem aprender a saber ouvir os avós, pois eles são sinónimo de experiência e de sabedoria e não apenas de doenças e de limitações. ‘Colo como ativismo’ e a ‘rebeldia de cuidar’ são, assim, dois conceitos-chave desta instalação.

Avó Conceição: tem dois dos grandes amores estampados no rosto: o seu gatinho pendurado na haste dos óculos e no cabelo um fato de macaco de criança que representa o neto Gabriel.

Avó Adelaide: os seus lábios cor de rosa rosa são crochets que foram feitos e doados pela própria e o rosto integra cores e texturas ricas, próprias de quem vive com uma atitude muito positiva, até mesmo após o falecimento do seu grande amor.

Avó Fátima: no rosto tem plantadas flores e os seus lábios são feitos de serapilheira. Tudo isto simboliza uma infância dura a trabalhar nos campos em África.

Avó Maria de Lurdes: é o rosto mais modernizado de todos, pois é a avó mais nova. Os tons escuros refletem as múltiplas tristezas que já sofreu ao longo da vida.

Avó Odete: as cores mais azuladas e verdes pálidos falam de um casamento difícil, sendo que os tons amarelos torrados tentam quebrar com esse passado.

Avó Tomásia: pestanas e sobrancelhas feitas de rendas com apontamentos azuis, indo ao encontro da doçura e serenidade que o seu olhar e presença transmitem.

Avó Zita: rosto feito de padrões africanos e uma boca cerrada feita de um tecido delicado de bordados e missangas, abordando assim a incapacidade de a avó falar sobre a sua história dolorosa.

Avó Maria José (avó da artista): é o único rosto feito a partir de uma fotografia de juventude. Todos os tecidos usados expressam este início de vida adulta e os sonhos por concretizar.

2. Pintar com tecidos, com agulhas e com linhas: Melanie celebra o legado das suas avós através do ato de costurar, pois a avó Idalina fazia as suas próprias roupas e a avó Maria do José confecionava o guarda-roupa das bonecas com as quais a artista brincava. Tendo em conta que os familiares se desfizeram da maior parte dos objetos da avó Maria José, a autora “agarrou-se” literalmente ao que sobrou: algumas colchas, uma caixinha de música, uma máquina de costura e umas bolas de candeeiros. Das outras avós, recebeu algumas peças pessoais e de fábricas portuguesas muitas sobras de tecidos. Através do processo de corte e cose, construiu diálogos poéticos e um tratado sobre as memórias das matriarcas das famílias.

3. Sustentabilidade: a indústria têxtil é uma das mais poluentes à escala global. Para se ter noção, a cada segundo estima-se que são deitadas fora 2000 peças de roupa no mundo e, para se produzir uma t-shirt, são usados cerca de 2,700 litros de água, o necessário para hidratar uma pessoa por 2,5 anos. Como acontece em todos os seus projetos, também nas Vozes da avó Melanie fomenta o upcycling — reutilização criativa de produtos —, dado que 95% dos materiais usados são provenientes de doações, quer das avós entrevistadas quer de empresas do setor, como a Burel Factory (Manteigas), i9tex (Famalicão), DC Factory (Amadora) e Casa das Napas (Setúbal).

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